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A minha Bela Adormecida

A minha Bela Adormecida

6 meses na nova viagem

Faz 6 meses que partiste... continuo com muitas saudades de ti mas constato que o vazio que me deixaste no coração está cada vez mais a "encher-se" do carinho que tenho por ti, permitindo que a dor diminua ao longo do tempo... era esse o meu intuito desde sempre... que o amor vencesse a dor...

Facebook

Hoje ao chegar a casa, para um mini descanso antes de iniciar as tarefas diárias, comecei a ver o Facebook... primeiro vi a foto da filha da minha prima que estava grávida quando eu estava da Sofia, 2 meses de diferença, estávamos as 2 tão felizes e agora a bebé dela já está crescidinha... que saudades da Sofia... depois deparei-me com um comentário de uma colega do secundário: "Como se sobrevive com a morte de um filho? (...)", um aluno dela perdeu uma irmã, estive quase a escrever-lhe, mas já não nos vimos há quase 20 anos e na realidade ninguém quer mesmo saber, restou-me por um boneco de tristeza... e no fim ainda reparei num desabafo da mãe do Rui Pedro, aquele menino perdido já há tanto tempo, isso sim, deve ser tão angustiante e tão triste pois não dá para fazer o luto, revejo-me em algumas palavras dela quando dizia que tem de ter sempre a mente ocupada, essa ânsia também tive durante muito tempo pois era assim que achava que conseguia ultrapassar aquele dia... só que ela não consegue passar dessa fase... eu já consegui estar noutra fase mais serena mas...tic, tac... o tempo passa mas a mágoa do acontecimento traumático já assumi que nunca irá passar... todas estas pequenas coisas me afetam... por mais forte que pareça para seguir em frente, a mágoa, as saudades e o amor estão lá sempre...

Cerimónia de despedida

Faz hoje 5 meses que estivemos presentes na tua cerimónia de despedida... nunca pensei passar por tal acontecimento... nenhum pai deveria vivenciar uma experiência desta... apesar de tudo, reinou o sentimento de Amor e muitos abraços, o melhor gesto para curar a dor...

Tragédias

Não sei o que dizer... faz hoje 5 meses que partiste, foi a minha tragédia pessoal... foi muito triste mas sereno pois tivemos hipóteses de nos despedir... nem todas as pessoas têm essa "sorte"... hoje passado 5 meses, acordo para uma tragédia nacional, já vão em mais de meia centena de vítimas... pessoas como todos nós que se viram encurralados pelo fogo... nem consigo imaginar... principalmente para aquelas crianças inocentes que estavam no início das suas vidas e com os seus familiares ao lado a fazerem o seu melhor... que injustiça tão grande... a vida consegue ser tão maravilhosa, mas tão filha da $#&* sacana... perante as adversidades, tudo parece superficial...

Que seja agora

 

Faz precisamente 4 meses que recebi o diagnóstico da Sofia... foi uma conversa inimaginável, mas que a recebi com alguma "aceitação" pois no meu íntimo fui-me preparando para o pior nos dias que antecederam... lembro-me que num desses dias, não sei precisar se nesse ou noutro anterior, ouvi na rádio a música dos Deolinda "Que seja agora", cujo refrão nos diz:

 

Tem de acontecer, porque tem de ser
E o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

 

Acho que também ajudou a "aceitar" o inevitável...

Tempo

Para umas pessoas, a minha dor não pode ser tão grande comparada com mães que perderam os seus filhos mais velhos. Afirmam que não tive hipótese de criar memórias com a Sofia do dia-a-dia, em casa ou no parque ou noutros locais que fazem parte da nossa vida, não cheguei a conhecer a sua personalidade, etc.

 

Realmente não consigo medir a minha dor e compará-la com as outras pessoas...

 

Sei é que felizmente essas pessoas tiveram oportunidade para vivenciar isso tudo e eu não... os dias mais felizes foram aqueles em que pude interagir com ela e especialmente aquelas quase 24 horas de colo... foram as minhas memórias possíveis e são essas que me trazem umas saudades tão grandes que até doí o peito por não poder continuar com ela até ao fim da minha vida...

A evolução da Medicina

Para mim aquele dia de Natal foi "o" dia... só mesmo a evolução da medicina nos permitiu conhecer e viver com a Sofia aqueles 24 dias.

 

Nunca me irei esquecer daquele silêncio no seu nascimento, seguido da contagem da reanimação... no recobro, o semblante de gravidade dos elementos da equipa...

 

Eles são ensinados para fazer nascer vidas, não para "perder" vidas, pelo que sei que estas situações de emergência também lhes afetam, ainda mais nestes dias especiais do ano em que todos acreditamos no Amor e na Paz no Mundo... por mais que a medicina evolua, existe e existirão sempre aqueles momentos inesperados que a Vida nos traz.

 

Efetivamente nós não somos Deus e a vida percorre o seu curso, pelo que após 24 dias ela deixou-nos...

Deceção

No outro dia a Maria em conversa estava a referir-se à outra irmã que viria aí no Natal... Como é que é?!? Foi aí que percebi que ela pensava que os irmãos vêm sempre no Natal... tive de lhe explicar que nem todos os bébés vem no Natal, mais ainda, nem sabemos se ela irá ter novamente mais um irmão/irmã... "caiu-lhe mais um bocadinho da ficha" e ficou triste... foi de cortar o coração.

 

Só tem 4 anos e já tem de lidar com um tema tão pesado...

Sorrir

Dizem-me que é mais ou menos isto:

Mesmo que te apeteça chorar, sorri. Mostra o teu melhor sorriso, faz tudo o que for preciso... mas não te deixes cair. Ergue-te e olha-te ao espelho. Vê o que tens. Vê quem te ama. Depois cai na cama, limpa as lágrimas... porque amanhã será sempre um novo dia.

in "O homem que me fizeste ser"

 

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